A quarentena me desaguou. Eu vi meus maiores defeitos florescerem e meus maiores medos surgirem. Já fazia anos que não vivia uma crise dessas, e só eu sei que estive a ponto de perder tudo que conquistei. A parte mais difícil foi abrir mão dos meus planos, do caminhar constante e contínuo dos meus sonhos, aceitar que as vezes as coisas saem do nosso controle. Do meu controle. 2019 meu trouxe o domínio do corpo e da mente, das metas, de todas as áreas da minha vida. Parei de beber, parei de sair, estudei como nunca. E então 2020 chegou e compulsivamente me fez sair da gerência dos meus dias, percebi que posso estar pronta pra trilhar outra carreira, pra não ter filhos e até pra sair do país. 2020 me deu o tempo que eu precisava pra estudar, refletir e aprender o prazer de não fazer nada. Mesmo que a cada dia eu lute incansavelmente contra minha ansiedade e essa vontade impulsiva de tornar cada segundo da minha vida produtivos, mesmo sabendo que desligar e desfrutar do nada pode salvar minha mente de outro colapso, eu me forço a exercitar o dolce far niente. E seguirei tentando até domina-la.
ro.