Ainda bate a ansiedade de visitar sua casa todos os anos, Vó. Ainda sinto saudade dos meses infindáveis das férias de verão naquele sítio, que era pequeno pra minha infância insaciável. Vó, eu queria tanto que a senhora não tivesse ido embora, queria tanto não ter que te visitar num túmulo fechado, queria tanto te falar que eu te amo com um amor infinito. Queria ter você aqui só hoje, pra poder te mostrar o quanto você é importante e o quanto faz falta. Por uma última vez jogar baralho e experimentar sua comida perfeita. Mas sabe o que mais dói, Vó? E saber que meus filhos não presenciarão esse sentimento, saber que não conhecerão a sua casa e nossa história. Eles não vivenciarão todas aquelas sensações que me faz, hoje, escrever essa carta. Já não existe a árvore secular da reta, com os nomes de todos os casais apaixonados da família; já não estão na parede o quadro de todos os casamentos da família, a tradicional foto de noiva e noivo; e os panfletos de todas as campanhas da fraternidade atrás da TV? O pé de seriguela do quintal? O de jamelão, o de jaca? As árvores que por tantos anos foram nossas casas e os galhos que em tantas brincadeiras foram nossos quartos? Eles não saberão o que é isso, Vó, e quando eu falar, não entenderão a dimensão da minha saudade. Mas cada um tem sua história, não é mesmo? O meu lugar, repleto de luta e suor não será o mesmo do deles. A minha saudade também não será a mesma, mas será eterna. Saudade de você, do lugar, da risada alta dos primos e das tardes de sono no sofá marrom ou no chão vermelho da sala. Isso faz falta Vó, e só com sua lembrança isso era permitido. Te amo minha eterna abelha rainha, mãe de todos os meus sonhos.
Renata Oliveira
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