Você me permite ir, você me permite escolher, você é democrática, sensata, elegante, madura, equilibrada, não procura forçar sua opinião, impor sua vontade, você oferece espaço, aguarda, pede que eu reconheça seu valor, sai de perto para não pressionar, chora e sofre distante, recrimina o ciúme e me exclui.
Desculpa. Mas amor não é justiça, amor não é julgamento, amor não é consciência, amor não é controle.
Amor é um filho da p. da insistência, é manter-se perto, próximo, junto, grudado, até que o entendimento da vida estale.
Não é se afastar, não é facilitar o trabalho dos outros se afastando. Não é exigir que venha agora ou nada, que venha inteiro ou nada. Diante do extremismo, sempre ficaremos com nada.
Partilho da crença de que o provisório é tudo.
Pode vir pela metade, fragmentada, dividida, um terço de si, uma parcela, que eu aceito e completo. Eu lhe quero do jeito que der, do jeito que for.
Pode vir confusa, em crise, indecisa, ambígua, que logo unifico seus receios.
Não confio na saudade, confio na presença. A saudade só adoça o arrependimento.
Eu não saúdo a saudade. Eu dou a porta de saída para a saudade.
É com a convivência que vou mostrar que sou o melhor para seu temperamento, que sou também o pior, que sou o que espera, e sou também o que não espera, que sou sua alegria e também sua desordenada raiva, que sou seu encantamento e também sua decepção, que sou o centro de seus dias e também as margens de suas noites.
Não serei educado para deixá-la em paz. Nunca. Amor quando dói é mal-educado. Falarei excessivamente, farei sinais e gestos passionais, tremerei mais do que copo de morto - terá o que se lembrar de mim.
Não finja que deseja meu bem. Não há bem com a distância. Deseje meu mal, mas deseje que eu seja seu.
Aquele que é o nosso maior erro costuma ser o grande amor de nossa vida.
Fabrício Carpinejar