Você não esquece virando as costas. Você não esquece fugindo. Você não esquece ninguém evitando encontros. Você não esquece apagando as fotos e excluindo os telefones. Você não esquece jogando fora os pertences. Você não esquece cortando o cabelo e os hábitos. Você não esquece trocando de personalidade e de emprego. Você não esquece mudando o percurso dentro da cidade, você não esquece nem mudando de país.
Você não esquece ninguém ao longe, distante, sem contato nenhum. Você não esquece parando de pensar e de escrever. Você não esquece com paixões ou acumulando casos. Você não esquece desprezando conselhos. Você não esquece off-line. Você não esquece trocando a carência da saudade pela prepotência da mentira. Você não esquece omitindo nomes e recortando histórias. Você não esquece passando por cima da realidade e atropelando fatos. Você não esquece destilando ódio e rancor. Você não esquece arquitetando vingança e planejando respostas de conversas passadas. Você não esquece contando os dias de abstinência. Você não esquece fingindo desinteresse. Você não esquece dando de ombros, limpando os ombros, beijando os ombros. Você não esquece tomando ansiolítico e antidepressivo. Você não esquece fazendo greve de fome e de prazer. Você não esquece abandonando os amigos. Você não esquece forçando amizades. Você não esquece adotando outras religiões. A culpa não ajuda a esquecer. A maldade não ajuda a esquecer. A indiferença não ajuda a esquecer. O único e verdadeiro jeito de esquecer é vendo de novo e não sentindo mais nada.
Fabrício Carpinejar
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