Eu já fui bruta tentando me defender da vida, achando que esse era o melhor jeito de seguir em frente. Eu já fui tão bruta que acabei me despedaçando no caminho. Achando que me defendia, eu na verdade me machucava e machucava os outros também. Quando doía por dentro eu era raiva por fora.
Sentir dor faz parte, doer faz arte, doer faz até amor. A dor não é uma escolha, é uma condição do caminho, tudo o que vive dói. A única escolha é o que você vai fazer com a sua dor. Você pode se acovardar, se vitimar, atacar os outros, se esconder, anestesiar sua dor, se defender dela. Você pode fechar os olhos e os ouvidos pra tudo o que acontece à sua volta e permanecer na dor ou você pode seguir em frente. A escolha é sempre nossa e conduz ao nosso destino.
Como disse Adélia Prado "Dor não tem nada a ver com amargura". Amargura é o resultado da dor que não pode ser transformada. A dor pode se tornar o combustível das mais belas mudanças.
Por muito tempo confundi dor com raiva e raiva com força, mas percebi que raiva não tem nada a ver com força. Força é consistência, solidez. Força é aprender no silêncio o tempo das coisas. É apreender o silêncio das coisas perdidas no tempo. Força é não deixar a dor virar desamor por si mesmo. Força é isso que nos faz seguir em frente e nos mantém inteiros quando todo resto insiste em desmoronar. E isso não tem nada a ver com oferecer a outra face. Oferecer a outra face, muitas vezes, nada mais é do que dirigir a raiva para si mesmo.
Eu não quero sentir mais raiva, eu quero sentir amor. Já gastei muitos anos da minha vida perdida em sentimentos tão devastadores. Não tenho medo de sentir dor, tenho medo de não sentir amor. Eu quero um amor feito de intensidades e delicadezas. Eu quero amar mesmo que doa e se doer eu quero ter a coragem de amar outra vez, e outra vez, e outra vez e outra vez mais.
Andréa Beheregaray
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