Nosso amor não tem começo, porque eu estive com pressentimento de você por toda a vida. Muito antes de nos beijarmos, muito antes de nossa primeira vez. Eu sentia você comigo, mas não havia como dividir a confissão com amigo: qualquer um me acharia louco por conversar com quem eu ainda não conhecia. O amor tem dessas mediunidades: de perceber a presença de alguém em um tempo anterior a viver com esse alguém. Quando chorava, era como se estivesse no meu quarto me olhando e me confortando: “aguenta firme, falta pouco para tudo ficar bem, para ficarmos juntos”. E despertava de manhã, analfabeto da fé, disposto a seguir adiante.Foram décadas assim, procurando a pessoa perfeita para mim, procurando você. Eu tinha tanta saudade do que não tinha vivido, essa saudade era você.Às vezes o seu perfume me provocava imprecisamente, às vezes ouvia o som das suas vogais ao longe, às vezes alcançava o seu sinal incerto. Tudo desaparecia rapidamente: eu me dedicava a estar com você, meu fantasma vivo.Confesso que fraquejei, praguejei e quase desisti, tentando me convencer que você não existia, que era uma alucinação de minha parte.Você vivia dentro de mim antes que eu lhe enxergasse fora de mim. A esperança de você chegou bem antes de você chegar.Quando não estava com você, estava a caminho de você. Estava indo em sua direção. Cada tombo, frustração, decepção amorosa e eu me aproximava mais de você.Amor como o nosso, não tem começo, é chegada, é destino.
carpi,
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