
Posso estar rindo, posso estar trabalhando com vontade, posso demonstrar confiança, posso ser amoroso, posso ser simpático.
Mas estou amputado. O braço levanta, mas não abraça quem quer. A perna caminha, mas não vai onde deseja.
Parte de mim não existe mais. Você não vê diferença, é que disfarço a dor com elegância.
Manco só em casa. Tropeço só em casa.
Na rua, eu me equilibro na raiva e na injustiça.
Tenho minhas bengalas provisórias. Às vezes eu me escoro nas paredes dos amigos. Às vezes escorro o rosto de noite lamentando que não serei mais completo.
Estou amputado. Vou me adaptar, vou seguir adiante, vou sobreviver.
Não terei a mesma facilidade de antes, não acreditarei mais que posso ter tudo o que preciso, mas acharei um jeito de voltar a correr.
Um dia - espero que seja breve - ponho uma prótese, esqueço o tombo, a cicatriz se junta à pele, a dor será apenas uma fisgada no temporal.
Estou amputado.
Não tenha pena de mim, nunca se deixa um amor sem se machucar.
Fabrício Carpinejar