prioridades,

Tem sido dias difíceis, querido. Quantas vezes já não te disse isso? Mas últimos tem trazido diversos conflitos a tona, questionamentos sobre a nossa vida, sobre a vida de tantas pessoas e sobre o quanto somos ingratos ao universo. A realidade dói, sempre haverá uma dor maior que a nossa, e por que é tão difícil ver o lado positivo? Ver o bom emprego, a paz, o lar quentinho e os muitos privilégios que constituem nossa vida. Por que é tão difícil valorizar a lealdade a força pra se lutar no dia a dia e ver apenas o que - ainda - não foi superado? Ver aquelas meninas tão felizes, aqueles meninos que mesmo em meio ao abandono resistem. Ver as minhas dores tão fúteis, mas que latejam. Ver a vida passando assim, como um assovio. É devastador. Por quê? Eu só queria mais tempo pra ler, pra viajar, atualizar a lista de filmes e conhecer os museus da cidade. Eles só querem poder andar na rua sem lamear os pés. 

ROF

bye pill

Foi um bom relacionamento, até. 7 anos com você aqui, diariamente. Nos descobrimos e também entendemos a hora de parar, que aliás, devia ter acontecido há um tempo. Nós tentamos, não deu. Mas agora vai. Você me ajudou a lidar com as espinhas, com as cólicas e com as surpresas desesperadoras. Mas me deixou confusa com meus sentimentos ofuscados e quanto ao funcionamento do meu próprio corpo, logo eu. Foi difícil optar por dores, sangue e por uma pele que talvez não seja mais tão perfeita, mas hoje eu preciso ficar com meu corpo do jeito que ele é de verdade. Comigo. Escolher a outra opção significa mudar, renovar, e finalmente lidar com minha existência como ela é. Cuidar do corpo que anda tão ferido e da cabeça que também era influenciada por aqueles estrogenios e progesteronas tão desnecessários. Mais que uma troca singela de métodos, isso significa toda a luta que foi chegar até aqui e representa a liberdade de finalmente, poder escolher pelo que é melhor pra mim. Sigo odiando mudanças, mas agora compreendo quão necessárias são. Que se inicie a aventura de 10 anos.

rof

Mother, i don't wanna die ♫

Alguns dias são mais difíceis que outros, querido. Hoje é um destes. Não sei se é a dor do corpo em razão das mudanças, se é a carga de fim de ano. Não sei. Só queria o efeito dos remédios e o poder de ceder ao sono que me consome. Tem dias que eu queria poder dar vazão a essa fraqueza, a vontade de apenas dormir, ou de ficar quietinha ali. Só ali. Mas tempestades passam, logo o corpo acostuma, os dias de sol chegam e ficarei bem. Falta pouco, tão pouco.

Construção

No amor a ideia de uma relação perfeita só feita de prazer e de coisas boas é tão prejudicial quanto a ideia de 'príncipe encantado'. Nas duas a crença equivocada de uma felicidade possível sem contra-tempos, a primeira projetada nessa fantasia histérica da modernidade de prazer sem limites e sem  comprometimento pessoal suficiente. A segunda lançada na figura de que alguém, vindo de fora de nós mesmos, capaz de nos salvar dos dissabores da vida e nos dar a felicidade eterna. 

Obviamente nada disso se realiza. Não existe nada mais trabalhoso do que a felicidade, e principalmente a felicidade no amor. 

É preciso atravessar o pantanoso rio do autoconhecimento, repleto de emoções contraditórias, desejo de dependência e liberdade,  traumas, amor e ódio, angustia de separação e fantasmas de rejeição para só então encontrar, quem sabe, alguém disposto a comprometer-se também com nossa sombra e trilhar junto o caminho disso que chamamos amor. 

Porque quem ama apenas sua luz, ama pela metade.

Andréa Beheregaray.